domingo, 19 de fevereiro de 2012

Recomeçando em russo

Olha pro céu, é o mesmo céu que eu olho daqui. Mas as estrelas e as nuvens não são iguais, essas estão ligadas ao chão que piso, e é nele que preciso recomeçar. A cada passo olho para cima e busco possibilidades que só encontrei na terra, na Terra onde vivo, onde estou.


Nuvens

Ó nuvens pelos céus que eternamente andais!
Longo colar de pérolas na estepe azul,
exiladas como eu, correndo rumo ao sul,
longe do caro norte que, como eu, deixais!


Que vos impele assim? Uma ordem de Destino?
Oculto mal secreto? Ou mal que se conhece?
Acaso carregais o crime que envilece?
Ou só de amigos vis o torpe desatino?


Ali não: fugis cansadas da maninha terra,
e estranhas a paixões e o sofrimento estranhas
eternas pervagais as frígidas entranhas.
E não sabeis, sem pátria, a dor que o exílio encerra.



Mikhail Lermontov